A importância da vacinação em pessoas com diabetes

Levantamento feito pela ADJ Diabetes Brasil mostra o desconhecimento das pessoas sobre o calendário de vacinação e que os médicos não têm conversado sobre este tema com os pacientes

Em 2019, a International Diabetes Federation estimava cerca de 463 milhões de pessoas com diabetes no mundo. No Brasil, eram 16,8 milhões de pessoas com a condição e 7,7 milhões ainda não diagnosticados (1).  A curto prazo, a hiperglicemia pode levar a maior suscetibilidade da pessoa com diabetes a desenvolver infecções devido à alteração na resposta imunológica inata e adaptativa (2). Portanto, deve-se promover a imunização de crianças e adultos com DM enquanto estratégia de proteção à saúde (3). Nesse sentido, o Departamento de Diabetes no Idoso e Imunização da SBD, dando continuidade às ações iniciadas em 2019 com a Sociedade  Brasileira de Imunização (SBIm) com o Guia de Imunizações SBIm/SBD (4), lançou o Cartão de Vacinação, para facilitar o registro de vacinas em pessoas com diabetes
(https://diabetes.org.br/wp-content/uploads/2022/09/Carto_Vacinao_SBD.pdf).  

Apesar do consenso acerca dos benefícios da imunização, a adesão ao calendário vacinal em adultos permanece um desafio. Em uma amostra de 304 norte-americanos, 81% apontaram aderir ao calendário vacinal por recomendação médica, 78% por saber o motivo de ter se vacinado e 76% por saber quais vacinas eram indicadas (5). Em pessoas com DM, dados sobre a imunização contra influenza demonstram que as taxas de adesão são subótimas e esforços devem ser empreendidos para aumentar a cobertura vacinal nessa população (6).

O mesmo pode ser apontado em relação a imunização contra a pneumonia, disponível no PNI desde 1999, mas com pouco engajamento do profissional médico: dados de uma unidade referência do DF apontam que apenas 12,1% dos pacientes com DM e pneumonia informaram vacinação antipneumocócica, 69,7% negaram e 18,2% não sabiam da sua existência. Após engajamento dos médicos, observou-se um aumento de vacinados de 3% para 21%, e de orientações de 10,3% para 68,9% em 12 meses de acompanhamento (7). No estado de São Paulo, em 2003, apenas 17,0% dos pacientes com DM referida foram vacinados contra pneumonia (8).

Em 2020, a pandemia da COVID-19 impôs diversas outras barreiras às pessoas que vivem com diabetes (9). Um estudo pioneiro sobre o tema, realizado online no Brasil entre 1701 entrevistados, verificou que 59.4% relataram alterações na variabilidade glicêmica e 38.4% adiaram consultas médicas ou exames de rotina (10). Esse fato pode contribuir para maior risco de evolução grave diante do mal controle, como é sabido, principalmente naqueles que ainda não puderam ser imunizados durante a pandemia (11).

Outro estudo (12) recente demonstrou que as pessoas com diabetes descompensado são mais propensas a complicações graves da COVID-19. Os indivíduos apresentaram risco de doença grave e hospitalização três a quatro vezes maior do que a população geral; e algumas características clínicas como obesidade, doença cardiovascular, doença renal ou respiratória associadas a níveis de glicemia elevados tinham maior correlação com a gravidade da COVID-19.

ADJ Diabetes Brasil, que representa 35 associações de diabetes junto ao Governo Federal, realizou um levantamento online entre 6 de novembro e 11 de dezembro de 2020compartilhando o convite à participação de associações de diabetes brasileiras e às pessoas com diabetes. A amostra final compreendeu 2.027 indivíduos com DM e pais e mães de crianças com diabetes e cuidadores. Constatou-se que 8,7% (1.738) desconhecem o calendário de vacinação específico para este público. 

Um dado destacado é que 47% das pessoas com DM tipo 2 (DM2), que responderam à pesquisa, não se recordavam de quando o médico comentou sobre a importância da vacinação nas consultas e 9% disseram categoricamente que o médico não fala sobre o assunto durante o atendimento. Já 62% de pessoas com DM tipo 1 (DM1) disseram que o profissional recomenda a vacinação durante a consulta; especificamente, o grupo de pais e mães de crianças com DM1, 73,8% reforçaram essa informação. Esse fato denota que o médico pediatra indica a vacinação, mas há negligência por boa parte de outras especialidades médicas em abordar a importância da vacinação na consulta.

Quando as pessoas foram questionadas sobre se iriam se vacinar contra a Covid-19, 61% disseram que sim, 5,32% relataram que não e 17,61% afirmaram que depende do tipo da vacina e, por fim, 16,07% não sabiam.

Quando perguntamos se as pessoas tomaram as vacinas recomendadas para pessoas com diabetes ao longo de suas existências, os achados mostraram que: 91,71% se vacinaram contra Influenza, 79% contra Hepatite B, 81,15% contra Febre amarela, entre outros exemplos de vacinas questionados.

Com relação aos locais onde as pessoas se vacinam, 81,59% vão aos postos de saúde, 2,71% na Rede Particular e 13,56% tanto na rede particular como nos postos de saúde. O CRIE (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais) foi citado somente por duas pessoas.

Acerca de CRIE, um dado relevante foi o desconhecimento por parte de 93% das pessoas ou relacionarem o Centro ao posto de saúde. CRIES têm vacinas voltadas para pessoas com diabetes como Influenza, pneumocócicas conjugadas, pneumocócica polissacarídica, Hepatite B, Haemophilus influenzae B. Importante ressaltar que a pneumocócica polissacarídica só é encontrada nos CRIES.

Por último, foi questionado sobre as campanhas feitas pelo Governo por meio dos veículos de comunicação, se são suficientes para motivá-lo à vacinação: 53,57% dos respondentes sinalizaram que sim, 38% que não e 8,6% não sabiam.

Dessa forma, os dados da pesquisa denotam que é fundamental um maior engajamento do profissional médico e dos demais integrantes da equipe profissional para estimular a vacinação das pessoas com DCNTs, no caso particular, diabetes. Além disso, é crucial que os setores envolvidos no PNI, ampliem e reforcem o repasse de informações, considerando o momento oportuno de duas campanhas em condução pela primeira vez no país: vacinação para a COVID-19 e Influenza.

Portanto, pesquisa ADJ Diabetes Brasil aponta a necessidade de ações práticas e imediatas para contornar a preocupante situação verificada relacionada à vacinação. SBIm, SBD e SBEM reforçam a necessidade de divulgar ambos o Guia de Imunização (4) e o Cartão de Vacinação
(https://diabetes.org.br/wp-content/uploads/2022/09/Carto_Vacinao_SBD.pdf) para que vacinas passem a ser inseridas na prescrição médica e constem das orientações educativas junto aos pacientes com diabetes, associado ou não a outras DCNTs e endocrinopatias.

NOTA:

A pesquisa idealizada pela ADJ Diabetes Brasil foi por Isabella Ballalai, pediatra, Vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e membro suplente do Comitê Técnico Assessor em Imunizações do Programa Nacional de (PNI); Gabriela Cavicchioli, mestre em Enfermagem pela UNIFESP e coordenadora do Departamento de Enfermagem da SBD (2020-2021); Rebbecca Ortiz La Banca, membro do Departamento de Enfermagem da SBD (2020-2021) e pesquisadora do Joslin Diabetes Center; Hermelinda Pedrosa, endocrinologista, Presidente da SBD (2018-2019) e do Departamento de Diabetes da SBEM (2019-2020) e atual Assessora Governamental da SBD (2020-2021); Vanessa Pirolo, jornalista e coordenadora de Advocacy da ADJ Diabetes Brasil;  e Viviana Giampaoli, doutora em Estatística pela Universidade de São Paulo e professora doutora pela mesma Universidade.

Referências:

  1. International Diabetes Federation. IDF Diabetes Atlas. 9 ed. Bruxelas; 2019. [acesso em 13 Jan 2021]. Disponível em: http://diabetesatlas.org.
  2. Jafar N, Edriss H, Nugent K. The effect of Short-term hiperglycemia on the innate immune system. Am J Med Sci. 2016; 351: 201-11
  3. Comprehensive Medical Evaluation and Assessment of Comorbidities: Standards of Medical Care in Diabetes – 2021Diabetes Care 2021;44(Suppl. 1):S40-S52
  4. Guia de Imunização SBIm/SBD. https://sbim.org.br/publicacoes/guias/1119-guia-de-imunizacao-sbim-sbd-diabetes-2019-2020 e  https://diabetes.org.br/profissionais/index.php/component/content/article/165-diabetes-2019/680-sbd-lanca-novo-posicionamento-e-guia-de-imunizacao
  5. 5. Sevin, AM, Romeo C, Gagne B, Brown NV, Rodis JL. Factors influencing adults’ immunization practices: a pilot survey study of a diverse, urban community in central Ohio. BMC Public Health 16, 424 (2016). https://doi.org/10.1186/s12889-016-3107-9.
  6. 6. M Goeijenbier 1, T T van Sloten 2, L Slobbe 3, C Mathieu 4, P van Genderen 3, Walter E P Beyer 5, Albert D M E Osterhaus. Benefits of flu vaccination for persons with diabetes mellitus: A review.  Vaccine 2017 Sep 12;35(38):5095-5101.  doi: 10.1016/j.vaccine.2017.07.095.DOI: 10.1016/j.vaccine.2017.07.095
  7. Tavares FS, Gomes LO, Fernandes RP, Romani FAP, de Melo GP, Dantas LBP, Lauand TCG, Pedrosa HC. Situação vacinal antipneumocócica em pacientes com diabetes atendidos em hospital de referência no Distrito Federal – Brasil. Revista Eletrônica Acervo Saúde / Electronic Journal Collection Health | ISSN 2178-2091 REAS/EJCH | Vol. 11(13) | e1282 | DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e1282.20198
  8. Monteiro CN, Gianini RJ,Stopa SR, Segri NJ, Barros MBA, Cesar CLG, Goldbaum M. Cobertura vacinal e utilização do SUS para vacinação contra gripe e pneumonia em adultos e idosos com diabetes autorreferida, no município de São Paulo, 2003, 2008 e 2015, Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 2018, 27(2):e201727).
  9. International Diabetes Federation. https://www.idf.org/news/211:idf-statement-on-covid-19-vaccination.html (Acesso em: 20/04/2021)
  10. Barone MTU, Harnik SB, de Luca PV, de Souza Lima BL, Wieselberg RJP, Ngongog B, Pedrosa HC, Pimazoni-Netto A, Franco DR, de Souza MFM, Malta DC, Giampaoli V. The impact of COVID-19 on people with diabetes in Brazil. Diabetes Res Clin Pract. 166 (2020) 108304. https://doi.org/10.1016/j.diabres.2020.108304
  11. Drucker D. Review. Diabetes, obesity, metabolism, and SARS-CoV-2 infection: the end of the beginning. Cell Metabolism 33, March 2, 2021. https://doi.org/10.1016/j.cmet.2021.01.016).
  12. Gregory JM, Slaughter JC, Duffus SH, Smith JT, LeStourgeon LM, Erin R. Giovannetti, Schafer Boeder, Pettus JH, Moore DJ. Severity Is Tripled in the Diabetes Community: A Prospective Analysis of the Pandemic’s Impact in Type 1 and Type 2 Diabetes. COVID-19 Severity Is Tripled in the Diabetes Community: A Prospective Analysis of the Pandemic’s Impact in Type 1 and Type 2 Diabetes. Diabetes Care 2021 Feb; 44(2): 526-532.https://doi.org/10.2337/dc20-2260

    Fonte: SBD
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